Vampiro: Santa Dômina
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Jeanmarie Bello

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Mensagem por Lnrd Ter Mar 31, 2020 1:58 am

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“- Aproximou-se e colocou a mão longa sobre meu braço. ‘E por que não, Gandalf?’, sussurrou ele. ‘Por que não? O Anel Governante? Se pudéssemos dominá-lo, então o Poder passaria para nós. Foi por isso, na verdade, que o trouxe até aqui. Pois tenho muitos olhos trabalhando para mim, e acredito que você sabe agora onde esse objeto precioso está. Não e verdade? Ou então, por que os Nove querem saber sobre o Condado, e qual é o interesse que você tem lá?’. E enquanto dizia isso, um desejo ardente que ele não podia ocultar brilhava em seus olhos”. (Tolkien, O Senhor dos Anéis)


Alta, planando muito acima das cabeças dos "pés-na-terra", a graciosa águia de Manwë emitiu um alto piado. Oculta naquele céu negro, mera sombra contra os faróis de Varda, aquele som penetrante era uma das únicas maneiras de localizá-la.
Parecia recuperada, olhos em um ponto de vantagem, tentando cortar o breu.

Tal como povos que trazem à ponta da língua diferentes nomes para a neve, cada qual catalogando um estado específico – a nova, a dura, a assassina –, Arthur, Rossengwen e Bergil já reconheciam, na fala das pessoas, diferentes formas de escuridão dum mundo sem Sol e Lua: havia aquela na qual a atmosfera era limpa, estrelas brilhando ao máximo, e também o leve breu carmim de vulcões à distância; havia as temíveis nuvens de tempestade, raios serpenteando famintos e súbitos clarões, além das estranhas emanações subindo pela terra, “chamas de pântano”. Sopros esverdeados que pareciam miragens fantasmagóricas voando baixo à distância. E falavam com receio da noite profunda, quando fumaças negras tapavam completamente as joias de Varda, deixando tudo mais difícil de enxergar, mesmo a olhos já adaptados àquela realidade.

Era bom poderem contar com tochas e lanternas élficas, mas elas não permitiam uma noção boa de distância. Era justamente o que viriam a discutir em seguida. “Meu nome é Eryn. Eryn Docefalas, se lhe agrada, mestre Arthur Blackbeer”, respondera a figura que se aproximara.

Outra rajada cortante abateu-se sobre a cidadela velha, obrigando a visita a rapidamente recolher-se aos panos gastos com os quais tentava se cobrir. Especialmente a parte que protegia-lhe a cabeça, foi retirada por aquela lufada.
Era uma visão de pena, um peso ao coração já quebrantado.

Tinha feições angulares, prontas para correr contra o vento, e os olhos poderosos de quem via para além... mas era de uma cor pouco saudável, tom doentio de quem tivera a vitalidade roubada pelas intempéries da existência, a longa enfermidade de se estar vivo.  
- Perdoe-me se minha visão vos incomoda. Já era assim antes...  – e era claro a que se referia. Os cabelos haviam abandonado-lhe a cabeça, apesar de não aparentar tanta idade.

“As pessoas sempre caçoam de mim e me perseguem... talvez por isso eu tenha me apegado a coisas da mente e do espírito... . É difícil ser... diferente”. Como o resto, falava naquele sotaque incomum, mas que já se tornara costumeiro às almas retornadas do passado.

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Apesar da fachada pálida e enfraquecida, havia algo de sagaz nela. Que teria sido antes de tudo aquilo? Talvez trabalhado como escriba, cuidando dos números de algum entreposto, ou guardando textos antigos. Seria uma criatura da fé? Fosse como fosse, não tinha compleição de quem trabalhava com a força dos próprios braços.
– Se me permite, senhor Arthur Blackbeer… Tem que ter cuidado com as terras à frente.

Pela forma como falava, parecia reconhecer as ruínas, ao contrário daqueles três. Sabia, ou acreditava saber, onde estavam. “As pessoas falavam em visões estranhas mesmo antes da noite ter chegado. Assombrações. A rota usada não é para lá”, e falara apontando na direção onde esperavam encontrar o litoral. “É para lá, uma estrada desviando para o Norte antes de seguir para o Oeste. É um caminho mais demorado, mas mais seguro, diziam”.

Um trajeto mais longo era um presságio terrível, corpos acumulando-se em pilhas macabras – fossem aquelas mortes “naturais” ou... provocadas.

Além, o povo costumava ver coisa demais onde nada havia. Superstições as mais esdrúxulas eram comuns entre a população. Isso se dava principalmente entre os mais humildes, mas também afetava as camadas mais instruídas. Sempre havia uma profecia, um sinal a ser interpretado... .

Por outro lado, mesmo mateiros como Bergil, cuja sabedoria guiava-os por entre os perigos da natureza, distinguindo o que temer de verdade e o que se tratava apenas de medo em si, sabiam que algumas áreas eram agourentas e deviam ser evitadas. E era claro que elfos também evitavam zonas tocadas pelo mal, uma vez que a visão deles era diferente.
– Mas, por favor, não quero causar problemas. Se preferir, apenas esqueça que vos incomodei com palavras tolas. Mas, se quiser, pode ir na frente verificar enquanto aguardamos aqui para só depois pedir à marcha que avance.

Gente indo e vindo; uma briga; reclamações e lamentos. Lançando as últimas palavras, “agora devo partir”, foi-se tão etereamente quanto chegou, afastando-se na multidão.

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Após a partida de Eryn, Axcelandria não demorou a chegar. Ouviu os questionamentos de cada um e os relatos sobre o alerta, mas confessou não saber nada sobre aquilo. “Não devemos, porém, ignorar esse tipo de coisa. Forças terríveis andam por essas terras, isso é certo”.
- Se acharem prudente, eu e Ignastácia temos muito trabalho aqui e, como não conhecemos a área, é melhor que fiquemos para vigiar. Vocês podem ir investigar, se assim decidirem. Tentaremos ver se há algum lugar seguro para que ao menos parte das pessoas se abrigue. Caso prefiram avançar reto ou pegar esse desvio... .

Se alguém precisava fazer o papel de batedores, certamente era aquele trio, mais equipado para isso que a maioria daqueles farrapos. Caberia a eles conseguir informações para que pudessem planejar os próximos passos.

Mas não só sobre aquilo falara a senhora. “O cantil... realmente me parece ter algum tipo de ‘benção’. Às águas nele parecem mais... puras. Os ferimentos de Bergil parecem não ter deixado sequelas mais graves que algumas cicatrizes. Você também se recuperou bem, não foi, cara elfa?”.
- Das cordas élficas você deve conhecer também. O mal não as toca sem se queimar, mas nada de muito grave. E, como finos instrumentos, costumam ser mais “responsivas” que as doutras fabricações.

“Quanto à corneta, bem, se Arthur permitir que você a teste... Mas concordo com sua linha de raciocínio. Talvez quem ou quando faça diferença. Já as capas, eu mesmo as costurei e posso dizer que são muito resistentes. Parecem aquecer no frio e refrescar no calor. E, pelo que lembro, são bastante furtivas... ajudam a se camuflar por aí”.

De toda aquela fala, algo parecia óbvio. Evitara tocar diretamente no assunto do último e mais misterioso dos itens. Mas sem ter mais como evitar aquele ponto, pronunciou-se.
- Quanto ao anel... Como era de se esperar, não me parece um mero enfeite. Não sinto maldade nele, e nem deveria. Mas sinto poder. Digo, não um poder feito para corromper, mas todo o poder é igual quando na mão dos fracos de mete. Tenho... tenho meus motivos para não querer experimentá-lo. Mas, caso algum de vocês assim deseje... .

Mas antes que alguém respondesse, a ave novamente gritou pelo vazio sem chão. Dessa vez, não estava sozinha.
Alvoroço no acampamento.
- Axcelia! Axcelia! – gritaram chamando pela velha – Tem gente aqui!

Dentro de uma das casas caídas, duas figuras jaziam, nuas e em desalento. Desnorteadas, despertavam como se em um parto, expelidas da morte e devolvidas ao mundo da carne, do osso e da dor.

Não sabiam onde estavam e a última lembrança que possuíam era a de... estarem morrendo. Eram recebidas por vozes numa fala estranha, um sotaque estrangeiro, e não viam Lua ou Sol em parte alguma. Foram rapidamente cobertas com alguns panos e não tinham nada de seus pertences passados consigo.

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